Hoje analisaremos um dos clássicos das fábulas conhecido em
todos os países: As Crônicas de Nárnia. O livro escrito por Clive Staples Lewis, mais conhecido como C. S. Lewis possui o conjunto de 7 contos para crianças que
narra a história de aventuras em um mundo paralelo. Em um primeiro olhar entendemos
as crônicas como a bela história do leão e das crianças que passam por
aventuras em um mundo criado por eles mesmos talvez numa tentativa imaginável
de fugir dos problemas do mundo real. Uma visão mais apurada encontra na
história a intenção do autor sobre a educação cristã que inclui todo um sentido
moral. Entretanto, em uma análise profunda, descobrimos símbolos e sinais
ocultos de caráter misticos e sociais, vejamos bem:
O primeiro conto do livro da saga se
chama “O Sobrinho do Mago”que
narra as peripécias de um menino que vai morar na casa dos tios e acaba se
envolvendo em travessuras. Digory conhece a vizinha, menina Poly, e juntos
descobrem que o Tio André realiza experimentos “mágicos” em um quarto secreto
da casa onde mora. Tio André é um senhor de caráter hermético e trabalha com um
tipo de alquimia, sua pesquisa
se resume na busca de universos paralelos ao nosso, então ele cria “anéis
mágicos” que podem transportar seu usuário para tais lugares. As duas crianças,
secretamente, entram na sala proibida de tio André e acabam sendo transportados
para um grande bosque cheio de lagos, aonde descobrem que cada lago é uma
“porta” para um mundo diferente. É pela curiosidade que as crianças chegam até
o mundo [em ruínas] da Rainha (ou feiticeira) Branca [Jadis] e, pelo mesmo
motivo, a libertam de sua maldição. A Feiticeira acaba seguindo as crianças
para nosso mundo (Londres) e arma uma bela confusão até que um acontecimento
muda tudo: algo reluzente e uma bela música transportam os personagens de
Londres a um local novo que acabara de ser criado – Nárnia!!! Nesta nova terra todos conhecem o Leão e os animais falantes, inclusive um cavalo que foi transportado de
Londres também começa a falar. Em Nárnia, recém criada, o menino Digory
descobre a existência de um fruto mágico (maçã) que é capaz de curar todos os
males do corpo, é o fruto da eternidade. O menino precisava do fruto pois sua
mãe estava doente e mais que tudo ele queria ver ela curada, portanto o não era
permitido roubar tal fruto do lugar encantado, várias vezes ele foi tentado pela
feiticeira a roubar o fruto... No final a bruxa come do fruto e se torna mais
poderosa e imortal. O menino resiste e do fruto sagrado é retirado as sementes
e plantado uma nova árvore, acessível a todos os animais falantes e também aos
humanos que reinavam em Nárnia. Neste breve
resumo da história acima já conseguimos identificar algumas referências simbológicas que o autor usa:
1.º dois
humanos, crianças, um do gênero masculino e outro feminino, uma apologia a
“Adão e Eva” - pois os dois
“descobrem” a sala proibida e acabam por curiosidade usando a magia e assim
libertam o Mau (A Rainha ou feiticeira, falaremos mais dela em seguida);
2.º
o autor faz apologia ás 11 dimensões do universo, que é um ensinamento indiano
não cristão porém de caráter religioso (pra quem ler ou leu o livro é pode
reparar que fala também que o pai de Digory está fazendo pesquisa na Índia por
isso ele mora com a tia) quando é retratado o bosque sendo o “corredor” que
leva, através de lagos, as pessoas a cada uma dessas dimensões (inclusive uma
ideia muito parecida é passada no filme “Bele verte” - recomendo).
3.ª o tio cria “anéis mágicos” para
conseguir passar pelos portais - Idéia muito parecida com a de J. R.R. Tolkien (autor de Senhor dos Anéis).
Interessante saber que os dois autores eram muito amigos e os dois eram
cristãos fervorosos, relatos em seus próprios livros e bibliografias falam que
muitas vezes eles se reuniram para torcar idéias para as suas histórias. Essa
passagem do “anel”, assim como no clássico “Senhor dos Anéis”, remete a história biblica do Rei Salomão onde seu suposto testamento descreve que
poderia controlar todo o tipo de demonio atravez de um Anel recebido do Arcanjo
Miguel.
4.º O Leão, nesta passagem, já
representa a criação: Cristo! “O Leão de Judá” (descrito no livro de apocalipse)! O animal, juntamente
com a Música (OBS. a música é também a base da criação nas obras de Tolkien)
cria todas as coisas do novo mundo Nárnia – na bíblia, em 1.° João fala sobre a
criação, sobre “o Verbo” estar com Deus no ato da criação. Ainda que o nome
“Aslam” não deve ser mera coincidência sendo pois o termo “As” significa
“Maior” e “Lam” significa “Cordeiro” [Jesus = “cordeiro” de Deus]. Bonito
também foi é a contradição entre o animal e o nome: Leão [força e poder] versus Cordeiro
[fragilidade e simplicidade].
5.º podemos, neste
caso assim como na bíblia, entender o fruto da eternidade ( que também é uma
“maçã”) como o conhecimento. Indo mais além, na história do livro, podemos
dizer que o fruto pode ser o exemplo da tecnologia, já que a história fala de
Londres no século 19, a “maçã” era algo que poderia curar a mãe do garoto e que
também garantiu mais poder a “feiticeira”.
O segundo conto é mais conhecido, foi transformado também em filme: “O
Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa”. História que mostra as
aventuras de 4 crianças em Nárnia, são elas: Lúcia, Pedro, Edmundo e Susana. As
crianças encontram uma passagem para o lugar encantado e lá concedem animais
falantes e lutam contra a Feiticeira ou Rainha Branca que era a grande ditadora
que fazia todos infelizes. As crianças tem ajuda do grande Leão que também
acaba se sacrificando por um erro cometido por Edmundo, mas que ressuscita para
concluir sua missão.
Essa parte é muito óbvia tanto no
livro quanto no filme. Um ensinamento cristão representado em fábula. Começando
pelas crianças, alguns podemos decifrar de cara pelo nome como “Pedro” – também
foi o nome de um dos doze apóstolos, especificadamente o que se tornou o
primeiro Papa, fundador da igreja romana; “Edmundo”, que na história foi o
traidor e foi por ele que o Leão se sacrificou, lembra Judas e também traz
consigo um significado simbólico: seu nome é a chave, as letras “Ed” derivam do
latim onde “Et” ou “Ed” significam o termo “Ao” logo seu nome todo “ED-MUNDO”
significa “Ao Mundo” então entendemos pra quem o Leão fez o sacrifício e mais
uma vez há a ligação com Jesus Cristo, pois também há a ressurreição na
história. Já com as personagens Lucia e Susana não conseguimos identificar uma
ligação assim de cara, porém depois de entender a história podemos enxergar nelas a minuciosa representação respectivamente de Maria (mãe de Jesus) e Maria
Madalena – a primeira foi a que recebeu Jesus, assim como Lúcia foi a primeira
que chegou em Nárnia e a primeira a ver o Leão; A segunda como a discípula mais
dedicada, que viu o Leão morrer e ressuscitar Lúcia também representa a fé,
pois nunca ela desiste de seu ideal e não deixa de acreditar na vinda do Leão.
A Rainha Feiticeira Branca, anteriormente citada como “o mau”, nada mais é do
que o pecado, ela tem todas as características dos pecados capitais: A Ira, a
gula (demonstrado também quando ela ludibria Edmundo com um manjar dos deuses),
a inveja (do leão e de suas maravilhas), o orgulho (se auto intitula “rainha”),
a avareza (totalmente apegada a seu poder) e a luxuria (é vista por por muitos
na história como portadora de uma beleza rara), entendemos assim também por que
quando a feiticeira chegou em Nárnia o Leão discursa a todos que o mau havia se
infiltrado naquele mundo.
O conto “O cavalo e seu menino” é algo bem mais sutil, que descreve a angústia de um
cavalo que era falante mas foi obrigado a viver num lugar de animais mudos bem
como a história de um menino que era príncipe e não sabia. Os dois querem
voltar pra sua verdadeira casa. Entendemos que o “Cavalo” – animal que também
aparece no primeiro conto - é
a representação do Trabalho ou o trabalhador (essa representação também aparece
no clássico “Revolução dos Bichos” de Geoge Orwell), visto que o animal é oprimido, não
possui liberdade [para falar] portanto vive triste. O menino neste conto
representa o humano que vive na desgraça e não conhece o verdadeiro “Rei” que
tem dentro de si – “eu rei de mim”. Uma lição moral também no que se trata
dos dois buscarem sua origem, o Leão também aparece como um protetor na jornada
dos personagens.
Em “O Príncipe Caspian” que
também virou filme, é tratada a volta dos 4 irmãos – Pedro, Edmundo, Lúcia e
Susana - a terra encantada,
após ter passado cerca de 1300 anos no tempo de Nárnia (no tempo do nosso mundo
passaram apenas 2 ou 3 anos). Esse conto expõe o esquecimento das tradições da
terra encantada, até que um novo “guardião” surge – Príncipe Caspian! O rapaz
invoca as crianças do mundo real para ajudar na tarefa de trazer a antiga
Nárnia de volta. O Leão aparece para auxilar na batalha de animais falantes,
humano contra outros humanos descrentes. Na história aparece um personagem
muito engraçado que chama atenção que é o corajoso rato “Ripchip” que perdeu a
calda mas acabou ganhando novamente por um milagre concebido pelo Leão. É aí
que Pedro e Suzana saem da história, para as próximas idas e vindas o Leão
avisa que, dentre eles, só Lúcia e Edmundo poderão voltar a terra encantada.
Analisando,
encontramos nesse conto mais ensinamentos bíblicos:
1.° o tempo em Nárnia
passa mais rápido que em nosso mundo real – na bíblia em 2.ª Pedro diz “Um dia
para o senhor é como mil anos e mil anos são como um dia” .
2.° “Príncipe Caspian”, com todas suas
virtudes, faz apologia aos
anjos, até da forma como é colocado “Príncipe” que defende a criação viva e se
torna o novo guardião, remete a “principado” termo usado para designar tipos de
anjos.
3.° o rato “Ripchip” demonstra passa a
mensagem “não julgar pela forma” visto que o ratinho, mesmo pequeno e parecendo
indefeso, é o melhor espadachim entre os guerreiros (até melhor que o rei)
apesar de ser um tanto vaidoso. Nessa passagem lembramos do Rei Davi, que
venceu o gigante, sem falar que seu filho Salomão (de novo ele, rs) escreveu
muito sobre vaidade no livro Eclesiastes.
4.° O Leão promove um milagre
devolvendo a calda do rato.
5.° Esse conto já descreve a divisão
da religião, o ateísmo, muitos desconheciam, zombavam ou desacreditavam na existência do Leão.
6.° Ao dizer que apenas duas
crianças poderiam voltar a Nárnia (tendo em vista que Pedro e Susana ja estavam
mais velhos) somos obrigados a lembrar da passagem bíblica de Lucas que Jesus
diz: “vinde a mim as crianças, por que o reino de Deus é de quem se parece com
elas” e “receberá o reino de Deus como uma criança se não nele não entrará”.
O próximo conto se chama “A
viagem do peregrino da alvorada”, recente filme lançado pela
Disney. Relata a aventura de Lucia e Edmundo, acompanhando de Eustáquio – o
primo chato, culto e metido – em uma viagem nos oceanos de Nárnia. Eles ajudam
Caspian na busca de 7 fidalgos (grandes reis) do passado, passam por muitas
surpresas nas ilhas solitárias, entre as tempestades, na ilha das vozes, na
ilha negra (ou ilha do medo) e no fim do mundo. Eustáquio, no conto, de início
é um total descrente cético e no desenvolver (por onde passa por diversos
apuros, principalmente quando se transforma em dragão) ele começa a crer no que
vive e se transforma em um grande amigo do Leão.
Para um bom entendedor, o significado do nome do conto ja diz tudo: Trata-se de
uma navegação!! Quem é que já não ouviu a frase “Navegar é preciso, viver não é
preciso...”, pois bem essa parte são tratados ensinamentos para a vida.
Confesso que achei tão expresso isso no filme que hoje tenho até dó da minha
namorada (rrssr) pois quando eu fui ao cinema assistir o filme com ela eu me
empolguei tanto que depois que terminou fiquei por volta de uma hora comentando
sobre os ensinamentos morais passados (haja ouvido, haja saco pra me
aguentar!!!kkkk). A historinha resumida no paragrafo de cima enfatizou os
locais de passagem da navegação pois remetem a simbologia da vida, vejamos:
1°-
os “7 fidalgos”, para quem reconhece [e para quem não reconhece também, :P] o
número 7 representa a Perfeição, visto que é muitas vezes usado na bíblia e em
nosso cotidiano com esse significado. É a busca principal da viagem, a nossa
busca humana de atingir a perfeição.
2.° “Ilhas solitárias” é bem o que o nome
diz, uma reflexão sobre a solidão humana e seus males – agressividade, falta de
confiança e compaixão.
3.° “Tempestades” – as vezes passando por tribulações na
vida e pensamos que vamos afundar, porem nosso barco resiste para viver mais um
dia de sol!
4.° “Ilha das vozes” – quem é que não se deixa levar por vozes
alheias?? Alguns vivem de opiniões, criticas ou conselhos “invisíveis” e acabam
não vendo a verdade simples.
5.° “Ilha Negra” é o lugar onde os personagens
devem vencer seus maiores medos, só assim conseguem salvar os 7 fidalgos –
reflexão sobre vencer o medo para chegar perto da perfeição.
6.° “Fim do mundo”
ou “terra de Aslam” é colocado muito bem como o fim da vida. Encontramos também
um exemplo no personagem Eustáquio que no começo nega e depois vira um amigo do
leão, remete ao apóstolo Paulo. Esse conto é considerado chave pois nele o Leão
fala que está também em nosso mundo, mas com outro nome, acrescenta ainda: “Vocês têm que aprender a
conhecer-me por esse nome. Foi por isso que os levei à Nárnia, para que,
conhecendo-me um pouco, venham a conhecer-me melhor." Essa é a prova
concreta da intenção evangelizadora do autor.
Os dois ultimos contos “A cadeira de prata” – que fala do retorno de Eustáquio e uma
amiga Jill a Nárnia, eles devem encontrar o filho de Caspian através dos sinais
dado pelo Leão .
E “a
Última batalha”– fala sobre a confusão de um macaco e um burro
que encontram uma pele de leão e o fazem passar pelo grande Líder. O macaco faz
alianças com povos bárbaros e esses tomam Nárnia como propriedade. Então mais
uma vez o regente do mundo encantado pede ajuda aos humanos aqui do outro lado
porém nem todos podiam mais voltar, acabaram tentando apelar pelos anéis
novamente, mas um mágico acidente de trem transporta todos para o mundo
encantado de novo. Apesar de todo o sacrifício da garotada eles não conseguem
eliminar o estrago que o macaco e o burro fizeram, o Leão então decide acabar
com Nárnia e transportar todos para seu pais onde viverão felizes para sempre,
inclusive as crianças.
Logo vemos que esses últimos contos remetem bem ao “final dos tempos” ou apocalipse. No “A Cadeira de Prata”
há apologia aos sinais dos céus, que os personagens acabam não reconhecendo e
se perdem. Já em “A última batalha” é o retrato do apocalipse, temos também a
imagem do “falso profeta” que são, ironicamente, o Macaco (representando a
malandragem) e o Burro (preciso
falar oque representa? Rs). O Leão acaba com o mundo encantado e transporta
todos os merecidos para o Pais de Aslam, que também é o Fim do mundo, que
interpreto como a morte, especificadamente neste caso o
“céu”.